Do Pré-Escolar para o 1º Ciclo

Entrada no 1º Ciclo

A entrada de um filho para o 1º ano do 1º ciclo, é um momento muito importante na vida da criança e dos pais. Os pais encaram esta mudança como uma transição do lúdico para o trabalho. “Agora é a sério”– Transmitem. como se  período pré-escolar não fosse essencial para o amadurecimento da criança  e  desenvolvimento das competências necessárias para prepará-los para este momento. A criança passa agora a ser um aluno. Cada vez mais, o bom desempenho escolar dos filhos faz parte das objetivos dos pais. Muito pais, acabam por elevar as expectativas e privilegiar o aluno em detrimento da criança. Se a criança é um bom aluno, muito bem. Se não é, está o caldo entornado. É-lhe exigido mais e melhor. É criada muita tensão à volta dos resultados escolares. Muitas vezes são-lhe atribuídas horas extras de trabalhos e actividades que não deixam tempo para descansar, muito menos para brincar. Todas estas sobrecargas físicas e emocionais podem levar a uma consequente diminuição do desempenho do aluno, e o aumento de uma baixa autoestima derivada do sentimento de falhanço perante os pais.

É essencial que os pais ajustem as suas espectativas em relação à escola, e que dêem tempo para que os filhos progridam. Não se esqueça, que as crianças absorvem todos os sentimentos e atitudes dos pais. Se os pais se apresentam stressados e ansiosos com a entrada no primeiro ano, também para elas esta transição será tensa, e com uma adaptação difícil, vindo a piorar a obtenção de bons resultados.

Em Portugal, “A matrícula no 1.º ano do 1.º ciclo do ensino básico é obrigatória para as crianças que completem 6 anos de idade até 15 de setembro. As crianças que completem os 6 anos de idade entre 16 de setembro e 31 de dezembro podem ingressar no 1.º ciclo do ensino básico se tal for requerido pelo encarregado de educação, dependendo a sua aceitação definitiva da existência de vaga nas turmas já constituídas (..)”[Despacho n.º 5048-B/2013]

Há umas décadas atrás, os pais de crianças de matricula condicional, ou seja, que completam os 6 anos entre 16 setembro e 31 dezembro, preocupavam-se em que os filhos não perdessem um ano letivo, apenas por terem nascido uns meses mais tarde do que as restantes crianças do mesmo ano civil.

Se não houvesse vaga no agrupamento de escolas da área de residência, dava-se a morado dos avós, dos tios ou outra pessoa qualquer. Escreviam-se cartas ao Ministro da Educação. Reuniam-se condições para inscrevê-los num colégio particular, mesmo quando o orçamento familiar não o permitia. Porque nessa época havia uma certeza: perder um ano era atrasar os estudos.

Nessa altura não tinha sido criada qualquer relação entre o fraco desempenho escolar de algumas crianças, e a entrada precoce na escola.

Nos anos 80, Steve Biddulph, desenvolve uma teoria em que defende que atrasar estas criança um ano para que iniciem a sua vida de estudante apenas após os 6 anos concluídos, será a opção mais benéfica para o aluno. Sugere que as crianças mais novas se sentem inseguras, ansiosas e inadaptadas e que retê-las por um ano, proporcionando-lhes mais um ano de brincadeira, e é uma boa forma de lhes dar uma vantagem em relação aos mais velhos. Que os pais, ficam menos tensos em relação a resultados, pois estão a apostar numa criança mais confiante mais autónoma e mais madura.

Muitas vezes, a diferença de idades entre crianças que frequentam a mesma turma é de quase um ano.

Steve Biddulph defende que os alunos mais novos não estão física, emocional ou linguisticamente preparados. Muitas vezes não são suficientemente autónomos ou não têm maturidade para passar a esta fase. Refere ainda o facto de não terem as motricidades finas e grossas desenvolvidas como os mais velhos, vindo apresentar-se como uma dificuldade acrescida no aprender a escrever, por exemplo.

Tais factos, vão reflectir-se na sua (não) progressão ao longo do ano letivo. Para além disso,  um desempenho escolar esforçado, sobrecarregado e com resultados medianos pode também desenvolver outras características negativas na criança como a baixa auto-estima, falta de confiança, desinteresse escolar, isolamento etc.

Mas decisão de não colocar os nossos filhos na escola, e optar por retê-los, numa espécie de chumbo no último ano do pré-escolar,  nem sempre é fácil…

No entanto, é importante notar que, apesar da crescente popularidade dessa teoria, as opiniões não são unânimes no que refere benefícios a curto e a longo prazo da aplicação desta medida.
Reter o seu filho, permitindo-lhes tempo para amadurecer, também pode ter impactos significativos a longo prazo sobre o desenvolvimento emocional e autoestima dos nossos filhos. Nos estudos que têm vindo a ser realizados, conclui-se:

  • O atraso no ingresso parece não ter quaisquer vantagens; pelo contrário, as crianças retidas apresentam autoconceitos diminuídos e atitudes negativas perante a escola . Revela-se ser uma metodologia ineficaz, e não se veio a verificar quaisquer diferenças nas competências académicas destas crianças após a retenção, para além de que contribuiu para a estigmatização social das crianças com dificuldades. (Carlton & Winsler)
  • Em vez de fornecer um impulso para o desenvolvimento do capital humano das crianças, esta teoria simplesmente adia a aprendizagem e a longo prazo não se verificam vantagens nesta opção, sendo que, o ano perdido já não se recupera. (Elder & Lubotsky )

Todas as opções que tomamos relativamente aos nossos filhos têm sempre prós e contras, e numa situação como o desenvolvimento físico ou intelecto, não podemos pautar duas crianças diferentes por padrões como a idade.

Cada criança é única, e os pais devem tomar a sua decisão relativamente ao facto do filho estar ou não pronto para ingressar o 1º ano, tendo em conta as características da criança. Enquanto que para uma criança pode ser benéfico atrasar um ano, para outras pode ser prejudicial, por isso, deve tomar esta decisão de acordo com o perfil do seu filho. Não existe uma regra. Há de facto competências que se tiverem mais desenvolvidas podem ajudar a realizar esta transição de forma tranquila. Mas há também crianças que chegando aos 6 anos quase 7 também ainda não têm esta mesmas competências desenvolvidas.

Também é importante lembrar que a idade cronológica nem sempre equivale a maturidade emocional ou mental, e que o tempo não é o único factor de desenvolvimento do seu filho. Na verdade, se há alguém que pode ajudar no desenvolvimento dos nossos filhos, somos nós, pais.
Se até à idade de ir para a escola os ensinarmos a brincar, se os estimularmos, se lhes lermos histórias, se fizermos atividades plásticas e atividades ao ar livre, eles desenvolverão muito mais a maturidade do que em qualquer ano extra na escola.

Sabemos que cada vez temos menos tempo para estar com os nossos filhos, e por isso temos de transformar este crescimento em momentos de qualidade passados entre pais e filhos, realizando actividades divertidas, e que os ajude a crescer.  Partilhar do crescimento deles, e ter noção real das suas características e capacidades, é essencial para os ajudar na transição para o 1º ano.
Lembre-se, essa transição deverá ser um grande momento para os nossos filhos, e não um momento de stress e tensão para toda a família.

Rimm-Kaufman & Pianta, 2000

Por Up To Lisbon Kids®

— Infantário São Vicente


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